Pesquisa da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) indica que cerca de 30 milhões de pessoas se declaram vegetarianas no Brasil. Não há dados específicos sobre o veganismo, mas a estimativa é de que, desse total, pelo menos 7 milhões sejam veganas. O nutrólogo Eric Slywitch explica que o veganismo é um movimento filosófico, cultural e político que vai além de uma alimentação baseada em plantas. “O vegano é uma pessoa vegetariana estrita, só que além da alimentação, ele vai inserir no seu dia a dia tudo que está associado com a questão animal. Então, ele vai evitar vestimentas, cosméticos testados em animais, tudo que tenha alguma condição de exploração animal no seu meio”.
O ativista e comunicador Eduardo dos Santos mora no Parque Itajaí, periferia de Campinas, interior de São Paulo, e há nove anos tornou-se vegano. Ele e o irmão gêmeo Leonardo, também vegano, criaram uma página nas redes sociais para falar sobre o tema. Atualmente, o perfil “Vegano Periférico” conta com mais de 300 mil seguidores. “Você se depara com uma quantidade enorme de pessoas propagando o veganismo de uma forma completamente excludente e desconectada de uma realidade periférica. (...) E aí a gente falou: ‘Vamos criar uma página sobre veganismo popular, sobre veganismo periférico. A gente mostra que é possível, posta lá os pratos que a gente come, da onde a gente veio."
Já a culinarista Mara Lima Estevam, conhecida como Marocas Vegan, encontrou no veganismo uma outra forma de trabalhar e, também, de cuidar da própria saúde. “Eu era obesa mórbida e quase não me movimentava (...). Hoje eu já pratico corrida, já faço competições, a saúde está super ok”. No início, ela achava que o veganismo era algo inível, devido ao preço dos produtos veganos industrializados. “Não necessariamente nós precisamos ter os queijos na mesa, os hambúrgueres na mesa. Tem outros produtos, outros sabores e também produtos mais baratos, mais em conta, que nós podemos fazer com aquilo que temos na nossa horta”, explica.
Conscientizar a população de baixa renda sobre o consumo de alimentos saudáveis é a missão do Instituto Prato Verde Sustentável. No Jardim Filhos da Terra, periferia de São Paulo, o projeto transformou um terreno abandonado em uma horta agroecológica, que produz cerca de 40 toneladas de alimentos por ano. O educador ambiental Wagner Ramalho é coordenador do Instituto e acredita que seja necessário combater a fome nas periferias, para que as pessoas possam escolher o que querem comer. “Chico Mendes falava: ‘Ecologia sem luta de classes é jardinagem’. Então, é a mesma coisa: veganismo sem uma luta de classes… O que a gente vai fazer, vai deixar as pessoas morrerem de fome? Não! Primeiro a gente dá o pras pessoas, mas também informação, e depois a gente vem com uma capacitação. (...) A gente tá querendo diminuir os desertos alimentares e nutricionais que tem dentro de uma periferia. A gente tem que dar autonomia e soberania alimentar pras pessoas, para depois estarem com a barriga cheia e com energia para escolher o que elas vão comer”.
Além do trabalho de ativistas por uma alimentação saudável, outras ações buscam conscientizar as pessoas sobre o impacto do consumo de produtos de origem animal. A campanha “Segunda Sem Carne”, realizada em mais de 40 países, é um destes trabalhos. A ação foi o primeiro contato da nutricionista Alessandra Luglio com o tema. “No Brasil, a gente tem o maior número de refeições do mundo, é a maior campanha do mundo, servida por conta dessa parceria com prefeituras, com municípios em que se faz a ‘Segunda Sem Carne’ nas escolas, em alguns hospitais, nos programas de alimentação popular, como o Programa Bom Prato. (...) Um dia sem comer nada de origem animal, você reduz a sua emissão de CO2, o uso de terra, a produção de grãos em sistema de monocultura, o uso de agrotóxicos e também a questão da água”.
Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) aponta que o consumo de carne bovina impacta 18 vezes mais o uso da terra do que uma dieta à base de plantas. Uma dieta com menos carne poderia economizar 720 trilhões de litros de água e poupar mais de 800 milhões de hectares. Para a ativista Nina Rosa, que deixou de comer carne nos anos 1970, o crescimento do agronegócio e das áreas de pastagem no Brasil está diretamente ligado ao desmatamento e aos incêndios em áreas de preservação. “Foi fabricada uma ideia, porque interessava aos interessados, que o Agro seja, que o Agro resolve, que o Agro fornece. Muito pelo contrário, está destruindo o planeta. (...) Tem que haver transformações, tem que haver maior comprometimento e trabalho dos órgãos públicos, tem que haver punição das pessoas que estão literalmente colocando fogo no Brasil”.
Estas e outras histórias fazem parte do episódio “Veganismo Popular” do Caminhos da Reportagem, que vai ao ar na segunda-feira (02/12), às 23h, na TV Brasil.
FICHA TÉCNICA:
produção e reportagem: Sarah Quines
apoio à produção: Thiago Padovan
apoio operacional à produção: Acácio Barros e Lucas Cruz
reportagem cinematográfica: Alexandre Nascimento e Jefferson Pastori
apoio à reportagem cinematográfica: JM Barboza
auxílio técnico: Eduardo Domingues, João Batista de Lima, Jone Ferreira e Wladimir Ortega
edição de texto: Thiago Padovan
edição e finalização de imagem: Rodrigo Botosso
pesquisa de acervo: Fábio de Albuquerque
assessoria: Maura Martins
design: Caroline Ramos
videografismo: Alex Sakata
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